Entrevista - Daniela Vacarini (Dani)

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Criada em 08/03/2018 05:21

Última modificação em 08/03/2018 05:21

Em homenagem a todas as mulheres nesse dia especial, estamos aqui não só com o objetivo de parabenizar elas, mas de lembrar que o dia é de conscientização e de luta contra o preconceito.
Para mostrar que lugar de mulher é onde ela quiser, trouxemos à tona hoje a Daniela Vacarini, engenheira mecânica-aeronáutica e aluna de mestrado do ITA, além de membro da área de Mecânica e diretora de Marketing da ITAndroids!
Dani, como é chamada na equipe, foi a principal responsável por todo o projeto mecânico e fabricação do nosso robô Chape, atualmente o segundo robô humanoide mais rápido da América Latina.
Infelizmente o número de mulheres ainda é muito menor do que gostaríamos que fosse no setor de engenharia. Para falar mais do papel da mulher na engenharia e das dificuldades enfrentadas por causa do inegável machismo no setor, Dani fez uma incrível entrevista com nossa equipe, que pode ser encontrada logo abaixo:

ENTREVISTA - DANI



Equipe ITAndroids:
Dani, o que te motivou a estudar engenharia? Como foi a sua experiência ao fazer essa escolha?


Dani:
Eu sempre gostei de engenharia! Quando era pequena adorava assistir às corridas de F1 com meu pai e queria ser mecânica de pista (risos). Acho que foi uma ótima escolha, não me arrependo. Acho muito gratificante estar numa área que sempre me permite aprender coisas novas e aplicar ideias diferentes.




Equipe ITAndroids: Como foi sua trajetória nos estudos até chegar no ITA?




Dani:
Eu estudei em um colégio pequeno na Zona Norte de SP e depois fiz cursinho. A rotina de estudos para entrar no ITA foi bem desgastante. No final deu certo, mas não tenho saudades não.



Equipe ITAndroids: Qual o papel da ITAndroids na sua carreira como engenheira?

Dani:
Na ITAndroids eu aplico várias coisas que aprendi nas empresas que trabalhei, mas posso dizer que sempre aprendo coisas novas aqui também. Gosto bastante do ciclo mais curto de projeto (já trabalhei em projetos que tinham prazo de mais de 10 anos, é muito tempo!), de ver os projetos prontos e funcionando e da liberdade que temos para tomar decisões na equipe. Também acho muito gratificante o contato com os alunos, de poder passar o que eu aprendi e aprender com eles.



Equipe ITAndroids:
Há muitas mulheres na sua turma do ITA? E nos ambientes de trabalho que você esteve presente? Vocês sofrem ou já sofreram alguma discriminação?



Dani:
Pros padrões do ITA, sim. Na minha turma, uns 15% dos alunos eram mulheres. Isso inclusive causou problemas de alojamento, pois não tinha espaço no A- (Bloco onde todas as mulheres ficam no dormitório dos alunos do ITA, o H8) para todas. Eu tive que morar por um tempo no C+, juntamente com outras 4 meninas. Nos ambientes de trabalho sempre haviam poucas mulheres, já aconteceu de eu ser a única mulher do departamento. Nas empresas que trabalhei, felizmente, eu não sofri discriminação. Aconteceram alguns casos pontuais, principalmente de pessoas de fora da empresa. Era mais comum isso acontecer com clientes ou vendedores que não respondiam as minhas perguntas e preferiam responder aos homens. Mas não tenho o que reclamar dos meus ex-colegas.



Equipe ITAndroids:
Por que, você acha ainda é difícil equilibrar o número de mulheres na engenharia com o número de homens?




Dani: Acho que tem um papel cultural muito forte que dificulta isso. As meninas não recebem muitos incentivos para se interessar por tecnologia. Brinquedos e atividades "de menina" são sempre pouco voltados para exatas e tecnologia. Conversando com minhas amigas engenheiras, notei que muitas eram incentivadas pelos pais, acredito que isso contribuiu muito para a nossa escolha por exatas.



Equipe ITAndroids:
Quais são os principais obstáculos enfrentados pelas mulheres que buscam uma carreira em engenharia?



Dani:
Os obstáculos de verdade são mais psicológicos. Não existe nenhuma proibição contra mulheres na engenharia, podemos entrar em qualquer faculdade. Antes de entrar no ITA, eu ouvi várias vezes que não tinha cara de engenheira, inclusive uma pessoa chegou a me falar que eu não entraria por ser mulher (o pior é que foi uma mulher que me falou isso!). Depois que eu entrei, esses comentários pararam. Acho que ter passado no ITA acabou com as dúvidas dos outros. Acredito que o grande obstáculo é a opinião alhei, que vai fazendo as meninas duvidarem do próprio potencial.



Equipe ITAndroids:
O que você diria para as jovens que tem interesse em engenharia, mas estão descorajadas?



Dani:
Não desistam!!! Pode ser que antigamente tenha sido uma área complicada para mulheres, mas isso tem melhorado muito! Espero que as meninas que estão na escola hoje tenham muito mais facilidade do que as gerações anteriores. Posso dizer que nunca tive dificuldade de conseguir emprego por ser mulher, e que me sinto respeitada como profissional pelos meus colegas de trabalho. Ainda há muito chão pra correr até que exista equilíbrio total na engenharia, mas estamos no caminho certo. Essa geração de hoje é muito mais aberta a diferenças que a minha, acho isso muito bom.